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Marco Paulo, um dos maiores cantores populares portugueses, morreu aos 79 anos

Marco Paulo, um dos maiores cantores populares portugueses, morreu esta quinta-feira, aos 79 anos. Na memória coletiva ficam êxitos como “Eu Tenho Dois Amores”, “Ninguém Ninguém”, “Maravilhoso Coração” ou “Taras e Manias”, temas que pontuam uma carreira com mais de cinco décadas.

Batizado João Simão da Silva, optou pelo nome artístico de Marco Paulo, pelo qual ficou conhecido desde sempre junto do grande público. O cantor nasceu a 21 de janeiro de 1945 na pequena vila alentejana de Mourão, de onde saiu de “malas e bagagens” com apenas cinco anos em 2022. “Eu fui um menino que saiu do Alentejo, descalço, numa camioneta”, recordou na altura.

Cresceu a ouvir os temas do ator e cantor espanhol Joselito, que em criança tinha uma das vozes infantis mais famosas. Apesar de gostar de música desde pequeno, Marco Paulo só se aventurou nos palcos aos 18 anos, quando começou a atuar em várias associações, enquanto frequentava ainda aulas de canto.
Dois anos depois, em 1966, editou o primeiro disco, “Ver e Amar”. Temas como “Não Sei”, “Estive Enamorado”, “O Mal às Vezes é Um Bem” e “Vê” garantiram-lhe, em 1967, a gravação da versão em português de “Somethin’ Stupid”, de Frank Sinatra, com Simone de Oliveira. Ainda no mesmo ano, o cantor concorreu ao Festival RTP da Canção com o tema “Sou tão Feliz” e, três anos depois, representou Portugal nas Olimpíadas Mundiais da Canção de Atenas com o tema “O Homem e o Mar”

O sucesso de “Eu Tenho Dois Amores”
Em 1978, Marco Paulo recebeu o primeiro prémio da sua carreira com o êxito “Ninguém Ninguém”. Dois anos depois, lançou o tema “Eu Tenho Dois Amores”, que se transformou num marco da música portuguesa ao alcançar um número de vendas até à data inédito: 150 mil discos vendidos.

“Tara e Manias”, lançado em 1991, representou mais um sucesso na carreira do cantor. Contudo, não foi só no mundo da música que triunfou. Dois anos mais tarde, estreou-se como apresentador de televisão com o programa “Eu Tenho Dois Amores”, transmitido na RTP.

Ao longo de uma carreira de mais de cinco décadas, o cantor conquistou mais de 140 discos de platina, ouro e prata e vendeu mais de cinco milhões de discos. O sucesso também se fez além-fronteiras, junto das comunidades portuguesas no estrangeiro, o que levou a que atuasse em países como França, Alemanha, Estados Unidos da América, Canadá e Venezuela, assim como em vários países africanos.

Em 1996, o artista foi surpreendido com o diagnóstico de cancro no abdómen. Os especialistas que o acompanharam deram-lhe apenas três meses de vida, mas o cantor conseguiu vencer a doença e, um ano depois, voltou para o seu fiel e adorado público. Em 2020, voltou a enfrentar um novo cancro, desta vez na mama.
Apesar das mazelas deixadas pelos problemas de saúde, em 2021, Marco Paulo continuou a entrar em casa dos portugueses com um novo programa de televisão: o talk-show “Alô, Marco Paulo”, emitido na SIC. O formato, que esteve três anos no ar, era conduzido pelo cantor e pela apresentadora Ana Marques. Foi aqui que, com lágrimas nos olhos, aproveitou uma das emissões para anunciar que o ano de 2023 marcaria o fim da sua carreira musical.

Apesar de ter contrato com a SIC até 2025, o programa foi suspenso em agosto de 2024 devido aos tratamentos a que o cantor teve de se submeter.

Distinguido por Marcelo

Enquanto se dividia entre programas de televisão e concertos, o artista recebeu a distinção de Comendador da Ordem do Infante D. Henrique pelas mãos do Presidente da República, a 2 de maio de 2022. No mesmo ano, o corpo voltou a traí-lo e foi diagnosticado com um tumor no pulmão direito. Com dificuldades em respirar, sujeitou-se a múltiplos tratamentos.
Em fevereiro de 2024, o cantor anunciou que enfrentava um novo tumor, desta vez no fígado, o quarto episódio oncológico em menos de 30 anos.

Em junho, teve de sujeitar-se a uma quimioterapia mais agressiva, que acabou por suspender no mês de setembro: “não estava a resultar”, lamentou. Apesar do revés nos tratamentos, o cantor garantiu que recusava entregar-se à doença: “Tenho de andar animado porque tenho de seguir com a minha vida”. Em outubro, voltou à quimioterapia, mas já não escondia o desalento: “Estou muito triste e muito cansado porque as coisas não estão a correr como eu gostaria”.

Na gala dos Globos de Ouro deste ano, a 29 de setembro, Ana Marques subiu ao palco para homenagear o colega, que não conseguiu estar presente na cerimónia.
“O Marco Paulo não é apenas um cantor que marcou gerações. O Marco Paulo é isso mesmo, um nome incontornável da nossa cultura. Neste momento de fragilidade, mais do que nunca, queremos celebrá-lo”, disse a apresentadora.

A fé e a paixão pela vida

Marco Paulo nunca casou nem teve filhos, mas encontrou junto dos milhares de fãs uma família. Foi uma vida marcada pelos triunfos na música e na televisão, rodeado de amigos, dos muitos fãs que sempre o acarinharam e dos pais. O carinho que sentia pela mãe era notório sempre que falava publicamente dela. Contava que ela era “a estrela” que o “iluminava” sempre que subia a um palco e acreditava que ia voltar a abraçá-la, porque ela estava à sua espera tal como Nossa Senhora de Fátima. Tal como a mãe, a fé era um dos pilares da sua vida.
Em criança começou a ter uma devoção pela ‘Virgem Maria’ e recordou, numa entrevista ao CM em 2017, que assistia às procissões do 13 de outubro na televisão “pequena” que tinha em casa dos pais. A fé foi intensificada quando aos 18 anos foi a Fátima e se sentiu “como se estivesse em casa”. Acredita que Nossa Senhora “teve influência” na recuperação do primeiro cancro (1996), porque os resultados dos exames mudaram drasticamente para melhor.

“Nossa Senhora”, lançado em 2006, foi outro êxito e uma manifestação da sua fé.

Numa entrevista televisiva em que abriu o coração, em janeiro de 2023, falou das lutas que conseguiu vencer e das lutas que continuava a travar e garantiu: “Gosto muito de viver”.

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